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Antes de tudo, temos que lembrar o pecuarista que o primeiro ponto para o sucesso na pecuária de corte é entender que o seu principal produto, antes mesmo da carne, é a cria. Porque o bezerro (a) pode ser destinado a recria e a engorda se transformando em carne, ou ser recriado e desafiado a reprodução dando sequência na progressão e melhoramento genético do rebanho. Além disso, o ágil no preço de estoque sempre foi o ponto de largada para se ter lucro ou prejuízo no período da recria e da engorda. Por isso, a cria sempre estará na moda.

Aprofundando um pouco mais na importância da cria para o sistema e observando o “ciclo plurianual do gado’’ chegamos à seguinte conclusão

Ciclo de preços na bovinocultura de corte. Imagem: Rehagro blog.

Quem “manda” e projeta as perspectivas e as realidades do mercado futuro é, e sempre foi, a oferta de bezerro (a). Um período de oferta de bezerro , antecede uma baixa no preço da arroba!  Agora, quando não se vê bezerro (a) no mercado, podemos ficar “antenados” pois o período antecede uma alta no preço da @!

O segundo ponto está atrelado à quantidade de bezerros produzidos. Vejam bem, falamos por enquanto em quantidade de crias, pois já sabemos que isso que vai afetar o mercado futuro e tem grande influência no lucro do pecuarista. Então temos que saber o que podemos fazer para aumentar o número de crias. Adianto para vocês aquela conhecida frase: “o cio da vaca entra pela boca” que já pode ser atualizada por: “o cio da vaca ainda entra pela boca”.

 Para entendermos melhor essa frase temos que recorrer a fisiologia, pois tanto o macho quanto a fêmea precisam se alimentar adequadamente para obter reserva corporal (gordura) e desbloquear o eixo da reprodução, liberando assim os oócitos (ovos) nas fêmeas e os espermatozóides nos machos.

Escore 03 (escala de 01-05)  "Vaca lisa": não mostra ponta de ossos, inserção da cauda acumulando gordura.

Resumindo o segundo ponto do sucesso na pecuária de corte: se os animais que foram desafiados a reprodução estiverem magros, teremos pouca chance de ter a cria. Porém se estiverem magros (ganhando peso) as chances de ter a cria aumenta. Ou seja, o indicado é uma animal nem tão magro e nem tão gordo. Essa condição corporal sinaliza para sua cabeça que tem condição de se manter viva, crescer, produzir leite e gerar um novo bezerro(a). Quando falamos que o cio da vaca ainda entra pela boca não podemos esquecer que o manejo, ambiente, sanidade e genética influenciam na eficiência reprodutiva, porém os maiores problemas de infertilidade ainda são causas pela desnutrição.

O terceiro ponto é a chave para entendermos sobre o bezerro do cedo e podemos associar essa ideia a variável que mais representa se uma fazenda de cria está dando lucro, que é:  quilo de bezerros (as) desmamados por vaca e por hectare na fazenda por ano. Parece difícil entender isso, né? Mas é bem simples! Preste atenção na ideia a seguir:

Temos então que ter um número maior de vacas por hectare., desmamando (um) bezerro por ano bem pesado e o grande segredo para isso está na solo, que é o capim.

Agora vamos entender tudo isso. Por incrível que pareça a maioria das células de músculo “carne “e da “gordura” de um animal pronto para o abate foram fabricadas ainda quando ele estava no ventre da sua mãe. Isso mesmo, durante a gestação acontece a fase de maior multiplicação dessas células. Quando a vaca está sendo bem nutrida o número de células aumenta e ficam no bezerro (a) “espremidas” e “compactadas” até que tenham a possibilidade de “inflar” e “crescer”. Isso de se dá após o parto, ou seja, esse bezerro foi programado para se destacar na sua vida pós nascimento e terá maior ganho de peso médio (GMD) e maior possibilidade de acabamento de gordura.

Já o bezerro de uma vaca que passou por desnutrição durante a gestação terá menos células de carne e de gordura e apesar de nascer com o mesmo peso de um bezerro programado não tem o mesmo desenvolvimento, vindo a ser tardio e gerar prejuízos.

É válido lembrar que do nascimento até o oitavo mês de vida ainda observa-se a característica de multiplicação de células de “músculo” e de gordura, porém com um decréscimo  do potencial com o passar do tempo. Talvez esse seja um segredo para se desmamar o bezerro ao oitavo mês de vida.

Se já sabemos da importância da cria para o sistema... se sabemos que para se ter a possibilidade de cria, as vacas e os touros necessitam de nutrientes para reversa corporal e ativação do eixo da reprodução. E, agora sabemos que a gestação tem muita influência na quantidade e na possibilidade de aumento de carne e gordura no animal recriado e terminado, podemos usar do conhecimento das chuvas para sincronizar a gestação com o momento de maior oferta de alimento para a vaca e os touros e aumentar a taxa de prenhes e concepção. Ou seja, mais bezerros... Aumentar o número de células de musculo e gordura nos bezerros nascidos.... Melhorando assim o peso do bezerro (a) desmamado.

CONHEÇAM ENTÃO O TÃO FALADO BEZERRO DO CEDO.

Tabela Phibro - Pluviosidade média Geral (mm).

Isso mesmo,  o bezerro do cedo é aquele gerado pela vaca que emprenha no começo da estação de chuva e maior parte da sua gestação se encaixa na época de oferta de pasto. O bezerro(a) é programado para ter melhor desenvolvimento dos órgãos, mais saúde, mais possibilidade de desenvolvimento corporal e mais chance de acabamento de carcaça.

Além disso, o desenvolvimento primordial das suas gônadas (ovários e testículos) acontecem nos primeiros meses de gestação e somado a genética pode ser o diferencial de precocidade e eficiência reprodutiva quando forem desafiadas a “ precocinhas” e touros melhoradores.

Bezerros no curral. Foto: acervo  Nelore Vale Ouro

Não podemos deixar de fora a possibilidade de melhor desenvolvimento e funcionalidade da placenta e dos anexos embrionários e associar uma nutrição adequada a diminuição do estresse, o que tornaria mais tranquila a gestação e aumentaria a possibilidade dos ingredientes nutricionais serem distribuídos pro desenvolvimento da cria e não se deslocar para a resposta imunológica.

O quarto ponto revela os segredos para fazer a vaca emprenhar no começo das chuvas e gerar o bezerro do cedo, e o contrário de que muitos pensam a estação de monta de uma vaca não começa em outubro, novembro ou mesmo setembro ou dezembro! A estação de monta para o bezerro do cedo começa em abril e maio com a desmama do bezerro anterior. Pois nesse momento a vaca retira da sua demanda a lactação e ainda com oferta de pastos e suplementação menos adensada consegue-se melhorar seu escore de condição corporal (ECC).

Se pararmos para analisar, logo após a desmama é o momento mais indicado para o ajuste a condição corporal da vaca, pois abril e maio ainda chove ( terço médio de gestação da vaca que emprenhou em outubro ou novembro) e nos próximos meses (junho, julho e agosto) a qualidade do pasto vai cair e a cria que está no seu vente vai empurrar o rúmen para frente ( terço final de gestação) diminuindo o consumo de matéria seca e a possibilidade de melhorar seu escore de carne.

 Além disso, ao fazer o ajuste do ECC da vaca na desmama estamos automaticamente preparando o bezerro do ventre para melhor desenvolvimento, pois ele estará no terço médio do seu desenvolvimento gestacional.

Ainda,  mesmo que não consigamos ajustar o ECC da vaca na pós desmama, podemos usar suplementos mais adensados para corrigir isso antes do parto e no pós parto. Ou seja, partiríamos para a suplementação com proteicos e proteicos-energéticos.

A suplementação da vaca no terço final e no pós parto além de influenciar na programação fetal do bezerro do cedo (nesse momento no terço final) influenciará a próxima gestação de forma benéfica, pois pegando as conclusões apresentada em trabalhos mais recentes onde apresentam a ideia de programação pré-fetal, a nutrição adequada do touro e da vaca antes mesmo da concepção estimularia o desenvolvimento de gametas tornando-os mais preparados, o que aumentaria a possibilidade de reconhecimento materno, melhoraria a qualidade do oócito e seu tamanho. Iniciando antes mesmo da concepção a possibilidade dessa cria se destacar.

POR FIM O QUINTO E ÚLTIMO PONTO DA CRIA NA PECUÁRIA MODERNA.

Se já sabemos da importância do bezerro para o sistema, que o cio da vaca ainda entra pela boca, que os cuidados nutricionais com a gestação da vaca refletirão em bezerro (a) mais preparado e pesado e que mesmo depois do nascimento ele pode ter um estímulo para se destacar, por que não usarmos uma estratégia que abrange tudo isso?

Experimento Creep-feeding na IFMT - Campus São Vicente 

A estratégia visa a utilização do creep feeding associado a suplementação da vaca. Ao suplementarmos o bezerros nos primeiros meses estimulamos a vaca a retornar o cio e já trabalharemos com a formação de células musculares e adipócitos mesmo depois de nascido.

No terço médio de gestação temos a possibilidade de suplementação da vaca para melhora de escore corporal e creep para o bezerro para aproveitarmos o melhor momento para o ajuste do ECC da vaca, e o principal, com baixo custo!  No terço final, ajustar a demanda de nutrientes da vaca e preparar esse bezerro que será desmamado para embalar na recria, além de fazer a programação pré-fetal do próximo bezerro!

Então, suplementar a vaca e estimular o desenvolvimento do bezerro nascido, cuidando ainda do bezerro que está no vente é o “pulo do gato” para a pecuária moderna. É o que verificamos no experimento em parceria com o IFMT- São Vicente, onde os dados mostram que a associação da suplementação da vaca (0,1%/PV/dia) e o Creep Feeding para os bezerros (0,3%/PV/dia) melhorou em 24 quilos o peso da vaca e a suplementação apenas com Sal mineral levou ela ao balanço energético negativo (- 900 gramas).

Desempenho de vacas paridas de Nelore, experimento IFMT - Campus São Vicente.

Quanto melhor sua condição nutricional menos chance do seu ventre está vazio. Chamamos o espaço do tempo entre o parto e a nova concepção de período de serviço e toda estratégia que diminui esse tempo é bem-vinda.  E se sabemos que a eficiência reprodutiva da vacada está diretamente relacionada com o seu ECC no momento do parto. Então, os cuidados com a nutrição da fêmea têm que ser avaliada e acompanhada durante todo ano para não deixarmos ela parir magra, diminuindo a possibilidade de emprenhar novamente e se emprenhar dará origem a um bezerro que sempre chegará “mais tarde”!

 

Por: Pedro Paulo Tsuneda Médico veterinário e Dr. em Ciência Animal (UFMT) Gestor técnico Rico Nutrição Animal.